Sabe
aquele dia que você acorda com uma música na cabeça? Pensei em coloca-la no
MP3, para ouvi-la, mas como estava atrasado para o trabalho, saí apenas
cantando. Resolvi ouvir rádio, a música era antiga, quais as chances de que ela
estivesse lá, esperando por mim? E por mais incrível ou divino que fosse lá
estava ela. Meus olhos se encheram de lágrimas com esse pequeno ato de carinho
que muitos chamariam de coincidência. Não poderia deixar de escrever sobre o
porquê de querer tanto ouvi-la, do quanto ela me fazia pensar. A música era “Por
Enquanto”, de Renato Russo, mas gosto da versão de Cássia Eller, que fui
contemplado pela rádio. De brinde ganhei uma chamada “Sensações” de Paula
Fernandes.
De
tempos em tempos sou atacado pela angústia do eterno. Existem certos momentos
da vida em que tudo parece tão perfeito, em harmonia e todos estão felizes, as
coisas funcionam, a vida é maravilhosamente admirável. Tão perfeito que dá
vontade guardar tudo numa sala e viver aquilo eternamente. Nos apegamos aos
momentos de felicidade e queremos guarda-los, tentando nos iludir de que aquele
momento é eterno.
Saudade.
Maldita palavra que não tem tradução. Quantas vezes me pego lembrando do meu
passado e dizendo: Como aquilo era bom. Talvez seja apenas eu, mas muitas vezes
parece que momentos passados são sempre melhores do que os que vivo agora. E
sei que daqui um tempo lembrarei do agora e parecerá melhor. E assim será
durante todos os dias da minha vida. Isso é a nostalgia. Isso é divino.
Fico
pensando em quando quero guardar os bons momentos, desejando que eles sejam
eternos. Não haveria saudade, seria felicidade para todo o sempre. Viver os
melhores momentos, com os melhores amigos, com as pessoas amadas, todos os
dias, sempre e sempre. Será? Por que tudo tem que passar?
Acho
que o maior sofrimento de nossa vida é aceitar o tempo que passa. Aceitar que
até as alegrias que estamos tendo passarão. Esse buraco do eterno tem sempre
que estar livre, por isso tudo se acaba e cabe a nós decidir com o que iremos
nos preencher. As alegrias passam não para nos deixar tristes, mas para abrir
caminho para novas. A vida é sucessão de oportunidades para ser feliz ou
infeliz, nós devemos decidir.
Viver
as alegrias do passado como nostalgia, com saudade, é uma graça divina. Como é
bom sentar numa roda de amigos ou familiares e lembrar daqueles bons momentos
que vivemos juntos. Muitas vezes lágrimas vem nos olhos de lembrar do romance
que terminou, daquela tarde com os amigos, daquele momento em que você se
sentiu realmente vivo. Mas passou. Tudo isso tem seu espaço no passado, na memória.
O que somos tentados é deixar esses momentos tomarem lugar de outros que
devemos no presente. Viver acreditando que nada pode ser melhor que a saudade.
Nos perdemos em lembranças e nos tornamos uma peça de museu sem vida, que se
apegou a um ideal de que a vida nunca pode ser melhor do que já foi.
Me
pergunto porquê Deus nos permite tamanha angústia. Quantas vezes parece que
quando um grande momento de alegria acaba, junto se esvai a vida. Um vazio tão
grande nos preenche a alma e a vontade de viver passa. Logo enxergo que
precisamos disso. Se encontrássemos a felicidade plena por aqui nunca iriamos
buscar Alguém maior. Nunca teríamos tido consciência de que existe um Deus. Num
mundo onde toda a felicidade é passageira temos noção de que assim também é a
vida e que se não somos plenos aqui, devemos encontrar essa plenitude em algum
lugar. Aí que vem o Céu. O lugar onde as felicidades que eu sempre quis trancar
numa sala pra vivê-las pra sempre existe.
MARA!
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