Uma
coisa eu tenho que me gabar: Se existe um dom especial e incomparável que eu
tenho é o de atrapalhar a Obra de Deus. Isso eu posso dizer que sei fazer bem.
Deus faz todo aquele trabalho maravilhoso, prepara uma grande benção, direciona
tudo para que o melhor aconteça e... Lá vou eu, querendo “ajudar”.
Servir
a Deus é um desejo que surge imediatamente em nosso coração após a conversão. É
natural, estamos tão completos de Amor, que precisamos nos doar a Deus e vemos
no serviço a forma mais simples de nos entregar. Parece muito correto: Deus me
ama, eu amo Deus, então eu quero fazer tudo pra Ele.
E
aí vamos nós: pastorais, evangelização, grupos... Tudo o que a Igreja precisar,
estamos à disposição. Passamos a “defender os interesses” de Deus, Bíblia na
mão, alta voz e anunciamos pra todo mundo a maravilha que é o Senhor. Só que de
repente me veio: Será que Deus realmente me quer no serviço Dele? E se me quer,
como Ele deseja que eu o sirva? Quando sou eu quem fala e quando é Deus?
Nesse
momento eu realmente me senti amado por Deus. Repensei todo o meu serviço até
hoje e em uma oração silenciosa eu disse: Senhor, quanta misericórdia você tem
por mim, mesmo eu fazendo tudo errado, Você faz a Sua obra acontecer e me
permite continuar nela. De fato, Deus não precisa do meu serviço, sou eu quem
precisa servir a Deus.
A
diferença do nosso trabalho e do serviço a Deus é simples: todos temos dons e
capacidades naturais que usamos ao longo da vida, essas capacidades são
diversas: música, falar bem, facilidade com números, organização, etc. Tudo
isso pode e deve ser usado, tanto nos trabalhos diários, da vida cotidiana,
quanto no serviço a Deus. A diferença entre um e outro é que no serviço a Deus
nós precisamos ser guiados por Ele em nossos dons. Podemos passar nossa vida
toda trabalhando para Deus, sem nunca, de fato, tê-Lo servido. Por exemplo: alguém pode ser um excelente músico e essa
pessoa pode tocar na Igreja, nos grupos, mas pode nunca ter se deixado tocar
por Deus.
Dessa
forma fica muito fácil estar na obra de Deus, participar da obra e ajudar em
todas as pastorais da Igreja, mas nunca servir ao Senhor e começamos a
atrapalhar. Temos sim que colocar nossos dons à disposição de Deus e não
colocar os nossos dons no lugar que melhor nos interessa. E é aí que eu tenho
que assumir: sou um especialista em atrapalhar a obra de Deus. E essa reflexão
cabe a cada um de nós.
Quantas
vezes me coloquei a serviço, mas antes de qualquer Palavra Dele, já fui fazendo
aquilo que EU achava melhor? Quantas vezes trabalhei apenas onde me era mais
confortável, mais simples? Fiz o serviço se adaptar a MIM e não eu ao serviço?
Quantas vezes me coloquei como dono da Sabedoria e julguei o MEU próprio
discernimento acima daquilo que Deus desejou? Quantas vezes me orgulhei dos
MEUS feitos? Quantas vezes fui vaidoso pelos MEUS atos? Quantas vezes ME
julguei importantíssimo para obra de Deus? Quantas vezes ME julguei melhor que
outros servos? De fato, já recebi minha recompensa neste mundo todas as vezes
que a obra foi minha, que fiz por meus próprios interesses e vaidades e não por
Deus.
Se
Deus dependesse de nós para que Sua obra fosse realizada, ela já teria acabado
a muito tempo. E não apenas no serviço para Ele, mas também na realização da
obra em nossa vida. A todo o momento estamos bloqueando a Graça Divina em nossa
vida e em nosso espírito. Estamos sufocando o Amor de Deus e tentando fazer
aquilo que é melhor para nós, não por maldade, mas por inocência em acreditar
que realmente sabemos como Deus deve trabalhar e não entendemos que Deus não
trabalha, Ele realiza. Quando somos servos verdadeiros Dele não trabalhamos,
servimos como instrumento de realização da obra, seja na vida dos outros, seja
em nossa própria vida. Nós servimos, Ele realiza.
Somos
ainda tão incompetentes na obra de Deus, que muitas vezes O acusamos dos erros
que cometemos. Deus coloca algo maravilhoso em nossa vida e dá as direções que
devemos seguir. Nós seguimos pelo caminho que achamos melhor e não nos Dele e
depois, quando as coisas dão errado ficamos gritando: Por que, Senhor? E Deus,
em sua infinita paciência (entenda por misericórdia), recomeça do zero a obra
Dele que destruímos. E faz quantas vezes forem necessárias.
Depois
disso tudo a pergunta inicial me atormenta: Será que Deus realmente me quer em
Sua obra?
A
resposta é uma só: sim. Deus sabe de minhas fraquezas, minhas limitações, minha
arrogância, vaidade, prepotência e tudo de ruim que sou. Assim também, conhece
tudo aquilo de bom que tenho. Se sirvo a Deus não é porque sou mais amado, mas
porque sou mais necessitado desse Amor e por isso Ele tem tamanha misericórdia
dos meus erros e Se alegra infinitamente nos nossos acertos (o erro é meu, o
acerto é meu e de Deus, eu como instrumento e Ele como realizador). Isso me
leva ao desejo de tentar cada vez mais conhece-Lo e fazer aquilo que Ele
deseja. O que Deus mais ama em nós não são nossos erros ou acertos, mas a
vontade de ser Dele, claro, sempre refletindo se estamos trabalhando ou
servindo.
Acho
que no fim das contas, Deus me permite servi-Lo para mostrar a Sua grandeza.
Para que eu possa perceber que apesar de todas as minhas falhas, a obra Dele é
muito maior do que eu possa atrapalhar. Por maior que seja o meu erro, Ele é
capaz de fazer com que Sua obra se realize com perfeição. Assim como foi com
Jesus, que matamos na cruz e Ele ressuscitou para mostrar que Deus é maior do
que nossos pecados.
Enfim,
acho que a diferença entre servir a Deus em nossa vida e trabalhar para Deus
está na resposta que damos a Ele quando começamos a servir. Muitas vezes
perguntamos: Senhor, que queres de mim? Pergunta que não tem resposta. Ao
servir ao Senhor, devemos ter humildade em nosso coração e simplesmente dizer,
como Maria respondeu ao chamado de ser serva, após conversar com o Anjo e receber
sua missão: Eis aqui o servo do Senhor, faça-se em mim conforme a Tua palavra!
(E NÃO A MINHA!)
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