Quem,
quando criança, nunca se deslumbrou diante de um microondas? Lembro-me bem do
primeiro que meus pais compraram para casa. Ver a comida girando dentro daquele
aparelho mágico, que impressionantemente entrava fria e saía quente, ou ainda,
ouvir os estouros do milho que ia se transformando em pipoca era meu passatempo
infantil, cada segundo que a comida passava ali dentro era uma eternidade e ficava
lá, com olhos bem abertos, na espera daquilo que não necessitava do fogo para aquecer.
Nem sempre acontecia aquilo que esperava: algumas vezes a comida ficava quente
demais, outras vezes, fria demais, mas a facilidade gerada por aquele aparelho
fazia com que se tornasse essencial em nosso lar.
Certa
vez, já anos depois do meu deslumbre e tendo aquele aparelho apenas como mais
um eletrodoméstico qualquer, me peguei observando o movimento da comida dentro
dele e pensei: O cristão é igual à comida dentro do microondas. Pode parecer
estranho, mas se formos analisar, nossa Igreja e nossa comunidade são formadas
por diversas questões relacionadas a esse cotidiano eletrodoméstico.
Pense
bem: O microondas é um aparelho que aquece com um fogo que não se vê tudo
aquilo que está ali dentro. Assim também é a Igreja e o Espírito Santo. Deus
envia seu Espírito para aquecer a nossa vida, trazer um ânimo novo, tirar nosso
coração da frieza do mundo e nos queimar de Amor e Fé. Nós não vemos esse fogo,
mas temos a certeza que ele é capaz de inflamar nosso coração. Apenas de estar
dentro da Igreja, na vida em comunidade, o Amor de Deus queima em nós... Ao
menos quando permitimos que isso aconteça.
Do
mesmo jeito, algumas vezes, queremos culpar o aparelho microondas por não
funcionar como deveria, mas não percebemos que o problema é a forma como o
utilizamos. Existem diversos tipos de questões que podem surgir no microondas e
na forma como o utilizamos, assim também, diversos tipos de cristãos são
aqueles que permeiam a Igreja.
O
mais interessante da minha longa observação e estudo do movimento do alimento
dentro do microondas era vê-lo girando. Meus olhos acompanhavam o alimento, às
vezes se fixando em um ponto específico, outras apenas observando o todo.
Muitos cristãos são assim: giram por toda a Igreja (e por outras denominações),
passam por todos os lugares e na maioria das vezes, nunca param esse movimento.
Vivem rodando em grupos de orações, em pastorais e em Igrejas; católicas,
evangélicas e por aí vão, nunca encontram seu lugar e na maioria das vezes,
estão girando em círculos, porque ainda não encontraram o verdadeiro calor do
Espírito Santo. Procuram se aquecer nas pessoas, roubam um pouco do calor
daqueles que ali estão, vão se tornando parasitas e quando já não veem nada de
bom para eles, continuam caminhando em outras rodas. O problema do círculo, é
que sempre se para no mesmo lugar.
O
problema não é circular, é não encontrar o verdadeiro fogo. Pode-se caminhar
pelos grupos de oração, aprender novos carismas, conhecer novas pessoas, mas
sempre com a certeza que o calor não vem das pessoas, mas de Algo maior, de
Deus. Um alimento frio não pode aquecer outro, assim também, uma pessoa fria de
Deus, não pode aquecer outra. Quando as pessoas se prendem em pessoas, ficaram
em seu giro eterno em busca do calor. Claro que muitas vezes, o problema não é
apenas a pessoa que está circulando, mas sim da pessoa que já aparenta estar
quente e que engana aquele que está frio, fazendo com que ele não encontre o
fogo de Cristo, pois afirma que ali, dentro de sua Igreja, está esse calor, mas
seu coração continua gelado. Esse é nosso segundo tipo de cristão de
microondas: quentes por fora, frios por dentro.
Em
meus estudos sobre o microondas, percebi que uma coisa me irritava
profundamente em sua atividade de aquecimento: Você colocava o timer de
aquecimento e o microondas tocava sua bela melodia apontando que seu delicioso
alimento estava quente e pronto para ser devorado. A aparência era deliciosa,
era possível até enxergar o vapor saindo como uma dança chamando a refeição.
Mas na primeira garfada se percebia que a comida estava completamente crua por
dentro, gelada, fria. Era uma decepção. E lá ia eu, devolvendo a comida pro
microondas, me sentindo enganado por ele.
Isso
me levou a refletir sobre o que acontece com muitos cristãos: Parecem
fervorosos, cantam em alto tom e louvam a Deus com um calor que impressiona,
mas por dentro, seu coração permanece frio. Lembram-me a passagem de São Mateus
15, 8: Esse povo me louva com os lábios, mas seu coração está longe de mim. São
os cristãos cascas-grossas. Por mais que o Espírito Santo tente agir, eles
retêm todo o calor apenas superficialmente, apenas nas aparências. São os que
mais gostam de aparecer e parecer quentes: Louvam com emoção, oram com grande
clamor, conduzem orações, pastorais, mas fazem tudo aquilo apenas para que
nossos olhos vejam “o vapor” de Deus em seus corpos.
Mas
na primeira “mordida”, no primeiro problema ou dificuldade, percebe-se que eles
ainda estão frios, que sua casca-grossa não permitiu que o fogo abrasador de
Deus invadisse seu coração. Fisicamente se comprova que é possível transmitir
calor. Isso é o que o cristão-giratório busca muitas vezes: Alguém que esteja
tão quente que seja capaz de mostrar pra eles a origem desse calor, ou seja,
Deus. Se o cristão está frio por dentro, logo seu calor externo acaba e ele,
além de perder rapidamente o fogo do Amor de Deus, não é capaz de aquecer
ninguém.
O
calor verdadeiro vem de Deus e aquece por inteiro e o melhor, nunca se
extingue, é uma fonte inesgotável de Amor. Nossa casca-grossa tem que ser quebrada,
senão ficaremos nossa vida toda repelindo o fogo do Espírito Santo, sendo
quentes por fora, mas nunca se permitindo queimar por inteiro em Deus e nunca
poderemos fazer aquilo que Deus mais deseja de nós: Amar os irmãos e levar o
fogo de Deus a todos os corações.
A
grande questão do cristão e do microondas é uma só: pra que o calor possa
penetrar no alimento, é preciso de preparo e paciência. Assim também é na Fé,
para que realmente possa se sentir o fogo do Amor de Deus, é necessário tempo,
preparo. Aprendendo a trabalhar com o microondas, percebi que quando se faz
cortes na carne, ela aquece por inteiro e não apenas superficialmente (anote
essa receita). Como cristão, temos que também nos abrir completamente a Deus,
deixar que Seu Amor entre profundamente em nosso coração, rasgar nossa alma
diante da presença Dele, por mais difícil que isso seja. Temos que abrir mão de
convicções, de vaidades, de orgulho e permitir que Deus trabalhe em nossa alma
onde nós mesmos desconhecemos. Chega de andar em círculos, chega de sofrer com
o coração frio, Deus tem o tempo certo pra você, deixe Ele queimar em seu
coração.
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