É
engraçado pensar que a poucos anos eu trocava cartas com parentes distantes.
Era uma grande emoção ver algo escrito a mão por aquela pessoa que não se via a
muito tempo, ver a forma da letra, o papel, aquilo realmente fazia o distante
se tornar palpável para nós, era um pedacinho dela, que se aproximava do nosso
coração. Então surgiram os e-mails, logo depois a explosão da telefonia e
evoluindo ainda mais, as redes sociais. Até as pessoas mais distantes ficaram a
poucos cliques de distância. Todos estão ali, online, o tempo todo.
Interessante
notar que o mundo e as pessoas de hoje estão completamente conectados, temos
internet nos telefones e telefones nos computadores. Temos nossos amigos
reunidos em uma só página e em um só grupo de e-mails. Partilhamos nossas
emoções, nossas alegrias, nossas tristezas, tudo o que acontece em nossa vida,
24 horas por dia: fotos, textos, 140 caracteres, vídeos, tudo está exposto.
Todos sabem quem somos, todos estão curtindo o que vivemos, todos estão nos
observando e nós estamos observando a todos. Nunca os outros foram tanto de nós
e nós nunca fomos tanto dos outros. Mesmo assim, as pessoas nunca foram tão
carentes, isoladas e depressivas. No mundo onde o social está presente o tempo
todo, nos sentimos cada dia mais sozinhos.
O
que entendo é que não estamos nos sentindo sozinhos, mas sim vazios. No mundo
social, onde expomos toda nossa vida, vamos nos esvaziando de tudo o que somos
em função de mostrar aos outros e tantas vezes mostramos mentiras sobre quem
gostaríamos de ser. Do lado oposto, nos preenchemos da mentira dos outros,
daquilo que eles nos mostram. Somos um completo vazio nos preenchendo do vazio
dos outros. Estamos nos tornando vazios porque estamos vivendo aquilo que
queremos ser para os outros, não o que de fato somos, não estamos criando nossa
própria personalidade, não temos nossas próprias opiniões, nosso próprio
pensamento, gostos, desejos, sonhos. Somos apenas levados pela vida e pelos
relacionamentos falsos.
Antes
das redes sociais tínhamos relacionamentos verdadeiros, construídos pela
presença, pelas conversas pessoais, pelos encontros. Hoje passamos o dia todo
conversando com os amigos, mas temos pouquíssimo relacionamento pessoal, nossa
vida é tão agitada que substituímos os encontros por mensagens de texto e é
comum, quando nos encontramos, passarmos grande parte do tempo “conversando”
com outros amigos pelo celular. Nós nunca estamos presentes.
É
impressionante como esse falso relacionamento tem nos aprisionado e nos viciado.
Quem nunca viveu o desespero de perder o celular ou ficar sem bateria o dia
todo? Não conseguimos mais deixar de estar online 24 horas por dia, estamos
vivendo para que os outros vejam que estamos disponíveis. Na maioria das vezes,
nesses dias que passamos off-line, percebemos que a vida continua a mesma, que
criamos expectativas sobre nossos relacionamentos, esperando uma ligação de
alguém, uma mensagem diferente, algo extraordinário, que muitas vezes, não
acontece. Apenas mais um dia. No fim, poucos são aqueles que “curtem” nosso
status ou compartilham nossos “twittes” e estão realmente interessados em nós.
Outra
complicação grave das redes sociais é o quanto podemos nos aprisionar na vida
dos outros. Somos tentados a ficar atualizando a página do Facebook apenas para
ver as novidades e fofocas da vida alheia, esperando que algo de mais
interessante aconteça. Em relacionamentos amorosos isso se torna ainda mais
grave, pois a rede social pode se tornar uma fonte terrível de ciúme e brigas,
muitos abrem o perfil do outro antes de abrir o próprio.
A
socialização pelos aparelhos móveis, como celulares e tablets tem gerado um
grande isolamento do mundo exterior, pois nosso mundo passa a ser apenas aquele
pequeno aparelho, que passa a direcionar nosso olhar. Note que vivemos nos
mundo onde todos se esbarram, mas nunca se olham, estão fixos em seus
telefones, em seu mundo, dizem um: me desculpe, sem sequer tirar os olhos da
tela.
Quando
Jesus passou por aqui ele mostrou o verdadeiro social: foi até as pessoas, as
tocou, abraçou, as ouviu e falou. Ele mostrou a importância de NOTAR cada
pessoa. Porém com a falsa idéia de social que temos hoje, ficamos cada vez mais
distantes dos outros, nosso mundo se fecha apenas para aquilo que cabe dentro
do nosso celular, estamos deixando de ver o irmão do lado, estamos nos
direcionando apenas para nós mesmos.
Não
sou otimista em relação a este ponto, pelo contrário, acho que esse
distanciamento tende a piorar ao longo dos anos. Imagino que um dia, no futuro,
estaremos presos dentro de nossas casas, fazendo eventos pelas câmeras do
celular, onde ninguém se encontra de verdade. Andaremos na rua com um capacete
que não nos deixa ver nada a nossa volta. Ficaremos cada dia mais trancados e
solitários. A depressão será o mal do século. Será que esse futuro já chegou? Um
dia imagino que alguém terá coragem de tirar o capacete e ver que existe um
mundo ao seu redor. Espero que seja eu, espero que seja você.
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