Na
minha adolescência sempre gostei muito de jogos de RPG e aventura. Nesse tipo
de jogo, escolhemos um personagem que se inicia no nível 1, vamos evoluindo e a
cada nova aventura, a cada batalha vencida, ganhamos os XP (eXperience Points),
pontos de experiência e que, atingindo uma certa quantidade, ganhamos o nível 2
e depois 3 e assim por diante. A regra é simples: quanto mais difícil a
batalha, mais pontos de experiência se adquiri e quanto mais evoluímos, mais
fácil fica de vencer as batalhas menores, porém somos chamados a batalhas ainda
maiores, pois o emocionante do jogo é sempre ter que vencer um desafio novo,
maior do que aqueles que você já enfrentou. Se não enfrentamos batalhas
grandiosas, que nos desafiam, nos acostumamos com aquilo que é fácil, mas aprendi
nos jogos que você pode se esconder por um tempo dos grandes chefes, mas uma
hora, eles te encontrarão e desafiarão suas capacidades. Se você estiver sem
lutar por muito tempo, a batalha será muito mais difícil.
Nesses
jogos, existe a função do Mestre, que é o responsável por narrar a história e
criar os desafios que os jogadores enfrentarão. É uma função interessante e
complexa, pois o Mestre tem sempre que "perder" para os jogadores.
Ele tem que criar desafios que sejam difíceis e recompensadores, que gerem
experiência, mas os jogadores tem que vencer as batalhas, caso contrário, o
jogo acaba. O bom Mestre de RPG é aquele que é desafiador, mas que permite a
vitória dos jogadores com orgulho de terem vencido sua batalha e que sempre tem
na mente uma nova aventura.
Sempre
fui um sonhador e acredito que a vida é como nesses jogos. Somos chamados a
evoluir, ganhar experiência e a cada novo desafio vencido, ganhamos um novo
nível e somos capazes de lidar com situações maiores, os desafios menores virão
novamente, mas já estaremos prontos para vencê-los com facilidade. O Mestre é
Deus, que está por trás dos nossos desafios, não que Ele envie as batalhas, mas
Ele nos convida a lutar, vencer e confiar que o Bom Mestre está no controle e
sabe o quanto podemos suportar. Nós, humanos, somos seres limitados, dotados de
infinitas capacidades, porém limitados em todas elas e durante toda nossa vida
somos convidados a superar nossos limites, ir além de nossas capacidades.
E não serão
poucos os desafios que teremos que enfrentar, pelo contrário, serão muitos e
cada dia maiores. Existirão aquelas batalhas mais fáceis, que dão pouca
experiência e existirão aquelas grandiosas, que nos farão subir de nível. A
cada batalha vencida, a cada novo desafio enfrentado, guardamos a história de
como a luta foi incrível e como, naquele momento que parecia impossível,
encontramos uma forma de vencer o gigante ou o dragão que nos desafiava. E ao
ver o monstro caído, derrotado ele sempre parecia sempre muito menor do que
enquanto lutávamos. Não que a batalha não fosse difícil, mas depois que o
problema caia, conseguíamos vê-lo com mais tranqüilidade e perceber que apesar
de tudo, éramos capazes de vencê-lo. Olhá-lo vencido, com a experiência ganha
pela batalha, era o momento em que víamos que lutar sempre vale a pena.
Claro
que durante as batalhas somos quase derrotados diversas vezes. Caímos, chegamos
no limite, algumas vezes temos que fugir da luta, restabelecer nossas forças,
lembrar de nossas experiências já vencidas e reencontrar forças para continuar
lutando (oração). Então voltamos para o desafio, prontos para continuar lutando
e tentar vencer, apanhar, cair, chorar e lutar até nosso limite e por fim,
superá-lo. Uma certa classe de guerreiros do RPG tem uma habilidade especial
chamada "berserk", uma das mais interessantes: quando ele estiver
quase derrotado, pode usar essa habilidade, que traz uma força maior do que ele
normalmente tem, tirando de dentro de si a capacidade de vencer. Se temos uma
vida de oração podemos também utilizar essa habilidade, buscar forças onde não
temos, em Deus e vencer qualquer desafio.
Para
aqueles que são guerreiros, tempos de muita calmaria são sempre ruins. Nada
melhor na vida do que ter desafios que nos levam ao limite, que nos ensinam a
vencer e perder, a lutar e ser misericordioso, a nunca subestimar os desafios,
mas ao mesmo tempo, nunca subestimar nossa capacidade de vencê-los. Um dia
poderemos aceitar nossa aposentadoria, nos sentar em meio a praça e ter o coração
cheio de histórias pra contar, das princesas, dos dragões, dos ogros e das
vitórias. Ter as mãos calejadas por nunca ter deixado a espada cair e no olhar
a espera ansiosa de um novo desafio.
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